sábado, 22 de agosto de 2009

RELATO 05: LITORAL NORTE – PRESO NO DESCONHECIDO

Sexta à noite, dia de ir para a praia. Entrei em um rateio de aluguel de uma casa de praia com um grupo de pessoas, e claro, já quis ir no primeiro final de semana. Fomos eu e um amigo. Nós não fazíamos a menor idéia de onde era a casa, bom, nós sabíamos o nome da praia e tínhamos como referência uma padaria, fora isso era no “chute” mesmo.

Depois de algumas voltas, de momentos perdidos, finalmente encontramos a casa. Era quase meia noite, tudo muito escuro, e nós não conhecíamos ninguém que estava na casa. O jeito era bater na porta, se apresentar, pegar as malas, e arruma um quarto para dormir.

Todos ainda estavam acordados, pois afinal, estávamos na praia. A casa era um sobrado, quatro quartos, dois banheiros, sala ampla, piscina e uma churrasqueira improvisada. Bem legal! Tinha sobrado apenas um quarto disponível, o menorzinho é claro. Era uma cama de casal e o colchão não era lá essas coisas, mas para casa de praia estava ótimo. Peguei outro colchão de solteiro, coloquei no chão do quarto, onde mais tarde iria dormir e lá aconteceria a tão famosa sensação de “acordar, mas nem tanto”.

Eu e meu amigo fomos dar uma volta na cidade, comer alguma coisa e pouco antes das duas da manha já estávamos nos preparando para dormir. Queríamos levantar cedo para surfar, bem, no meu caso seria tentar, pois minha experiência de apenas uma vez não era das melhores e já sabia que não tinha a menor vocação para o surfe.

A casa já era escura, muito escura, e quando apagadas todas as luzes pouco se enxergava devido às frestas da janela que permitiam a entrada da luminosidade do tímido poste que iluminava a rua. Deitei no colchão no chão, com os pés virados para a porta, mas desta vez não tive nenhum pressentimento, nada, estava tudo normal, aparentemente.

Como de costume, não se passaram nem quinze minutos e lá estava eu, preso mais uma vez. Fiz força para acordar, mas em vão. Tentei relaxar, pois aprendi com a prática que essa é umas das formas de sair da paralisa do sono mais fácil, mas eu estava tenso, acho que era por estar em um ambiente desconhecido. Não consegui relaxar, e teimei fazendo força na tentativa de acordar.

Naquele momento, pensei em gritar por ajuda, mas lembrei que meu amigo desconhecia dessa minha situação, e ele poderia ficar assustado, apavorado ou sei lá que tido de reação mais ele poderia ter. Então, após decidido em não gritar por ajuda, forcei para abrir os olhos, dessa vez parecia mais difícil, mais pesado, e quando finalmente consegui abrir, por pouco que fosse, só enxergava os tons cinzas da escuridão e os moveis rústicos do quarto.

Até então, o pavor estava de certa forma sobre controle. Mas tinha que piorar. Comecei a ouvir vozes, pensei em ser alguém da casa, isso me deixou um pouco mais tranqüilo, mas as vozes estavam tremulas e eu não entendia nada – acho que já conhecia esse tipo de som, e para mim era mais zumbido do que conversas. Quando abri os olhos novamente, percebi a presença de um vulto em volta de meu amigo, eu simplesmente congelei de medo.

Eu estava deitado no chão e o interruptor estava em minha frente, ao lado da porta, tudo o que queria era levantar e acender a luz. Foi como nas sensações anteriores, fiz força e num pulo levantei e apertei o interruptor, mas minha mão passou batida e a luz continuava apagada. Eu estava de pé, ao lado da porta, tentei abri-la, outra tentativa sem sucesso. Tive a impressão que conseguiria passar pela porta, parece legal, mas quando acontece é apavorante e não tive coragem de tentar. Continuei de pé, suando frio, e sem querer olhar para trás, pois ainda tinha a imagem do vulto em minha cabeça.

Não tive escolha, o jeito era pedir ajuda. Comecei a gritar por socorro e como num piscar de olhos, me encontrava em meu corpo fazendo aquele grito mais parecido com gemido de socorro. Ouvi a voz de meu amigo me chamando, perguntando se estava tudo bem, e isso me fez me acalmar. Logo despertei.


Quando a sensação acontece em um lugar desconhecido, o medo é ainda maior. Mas não adianta se preparar, o jeito é dormir e encarar.

sábado, 1 de agosto de 2009

IMAGEM 01: A SENSAÇÃO – SAINDO DO CORPO

É assim que me sinto.

A diferença é que estou aprendendo a ir mais longe. Se sei explicar o como e o porque? Não, eu não sei dizer.

RELATO 04: AINDA JOVEM – PRIMEIRA APARIÇÃO

Era 1996, eu tinha 14 anos. Esta vez foi em meu antigo apartamento. Apartamento de três quartos, sala, cozinha e uma varanda aconchegante. Meus irmãos dividiam o quarto maior e o outro era meu. Ficava localizada de frente para o corredor e minha cama ficava bem ao meio do quarto, facilitando a circulação.

Já era tarde, quase uma hora da manha e eu tinha que levantar cedo no dia seguinte, ainda era época de colégio. Estava acostumado a dormir tarde, ficar em frente a TV até altas horas, coisa de quem não curte muito estudar, como eu. A janela do quarto fica sempre entreaberta. Dessa forma um pouco de luminosidade me ajudava a enxergar caso eu tivesse a sensação.

Jovem ainda, amedrontado, pouco informado e recém acostumado a ter estas sensações, senti que algo estava errado naquela noite. Foi só encostar a cabeça no colchão que comecei a me sentir preso. Com medo, forcei para levantar e logicamente corri para acender a luz. Fiquei no claro por um bom tempo, mas eu precisava dormir. Afinal, estudar cedo é ter que acordar cedo.

Ao dormir a posição era e continua sendo a mesma. Barriga para cima e sem travesseiro. Deitei e deixei o sono me pegar. Passados poucos minutos, e pronto, eu me encontrava mais uma vez ali deitado e preso paralisado no meio do quarto. Forcei para abrir os olhos, queria muito acordar, estava com medo e apavorado, e ainda não tinha dominado as técnicas de gritar e falar. Pensei que tivesse morrido e meu espírito estivesse preso ao meu corpo. Passaram-se mil coisas pela minha cabeça. Foi desesperador.

Consegui olhar em volta, e via tudo, meu quarto exatamente do jeito que era nos mínimos detalhes. Comecei a ouvir vozes, sons desconhecidos e indecifráveis. Mas não falavam comigo, apenas conversam ao redor. Era como se tivesse pessoas ali, conversando entre eles, mas o assunto era eu. Olhei pela janela e conseguia ver o céu, estava aberto e com algumas estrelas ao meu alcance. Nesse momento visualizei a presença de alguém no quarto, para ser mais exato, de pé em frente à cama. Era escuro, roupas pretas e longas, e somente seu rosto era acinzentado e sem forma definida. Apavorado tentei identificar seu rosto, mas sem sucesso. Tive a impressão de ele estar se mexendo. De repente esse vulto começou a andar de um lado para o outro em volta de minha cama como se quisesse alguma coisa de mim. Nessa hora eu “gelei”.

Fechei os olhos com força e comecei a respirar em ritmo acelerado. Não conseguia me acalmar de forma alguma. O medo já tinha tomado conta de mim, e abrir os olhos era a última coisa que eu faria naquele momento.

Precisamente não sei o tempo que fiquei ali preso e de olhos fechados, mas baseando-se na teoria da relatividade para mim foi uma eternidade. O tempo não passava. Com os olhos ainda fechados, e mais uma vez concentrando o que restava de coragem e energia para tentar acordar, foi em um pulo que despertei saltando em direção ao interruptor e acendendo a lâmpada do quarto. Nem preciso dizer que para dormir novamente nessa noite, só de luz acesa.


Encarar o novo e o desconhecido foi arrepiante. Mas algo me dizia que aquilo ainda me aconteceria várias vezes. E estava certo. Continua acontecendo.